Vamos dar voz aos protagonistas do futsal nacional

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Pelo futsal de vermelho e branco



Diogo Baptista é o nome do camisola 9 do Salgueiros 08.
Com 12 anos, estreou-se como jogador de futebol do Senhora da Hora. A convite dos amigos decidiu dar uns toques na bola, sem qualquer formação, mas foi o futsal que acabou por lhe suscitar a paixão: pela modalidade e pelo Benfica.

Aos 13 anos iniciou o trajecto pelo futsal no Recife. Subsequentemente, enveredou pelo Boavista, subiu aos nacionais ao serviço do Monte das Pedras e, após uma curta passagem pelo Académico de Pedras Rubras, vingou no Salgueiros 08.
Em Maio, destacou-se pela astúcia, no Torneio de Futsal organizado pelo Salgueiros, e logo em Junho sagrou-se campeão distrital da terceira divisão com a camisola 20 envergada.
Decorrida uma década sobre os primeiros passos, Diogo persegue o sonho de chegar à primeira nacional sempre com o orgulho e a alma benfiquista presentes.
Anabela (A) – Antes de mais, diz-nos quem é o Diogo Batista dentro e fora das quatro linhas?
Diogo (D) – Dentro é um jogador com garra que quer sempre vencer os jogos. É um bocado impulsivo e dá tudo pela camisola que veste. Fora é um rapaz simples, simpático e também um pouco impulsivo.
A – Ser jogador talvez tenha sido um sonho de miúdo a concretizar. Se não fosses jogador de futsal o que terias seguido ou pretendes seguir?
D – Já quis ser tanta coisa. Veterinário, polícia, piloto de aviões. Aos 12 anos, comecei a jogar, a dar mais atenção e aí o sonho já era ser jogador. Gostava de ser piloto da força aérea, mas é impossível por causa das tatuagens.
A – Qual o jogador, o ídolo, com quem gostarias de dar uns toques?
D – O Falcão, porque é o melhor jogador do mundo. De Portugal, o Ricardinho. São astros.
A – Estás a falar de dois jogadores que não estão a jogar em Portugal, consegues destacar no futsal nacional um jogador?
D – O César Paulo que joga na minha posição. O André (Freixieiro), o Divanei e o Cardinal.
A – Há um clube que apoias como adepto?
D – Benfica, o meu clube.
A – Qual o clube que gostarias que vir a representar?
D – O Benfica.
A - Ao nível nacional, quem é o jogador e treinador da actualidade no futsal?

D – O treinador do Benfica, Paulo Fernandes. Foi campeão, fez uma boa época no ano passado e tudo indica que este ano vai fazer igual. Quanto a jogadores, Cardinal sempre. É o melhor marcador.
A – O Paulo Fernandes achas que se vai bater com o Orlando Duarte, treinador actual do Sporting, na luta pelo título ou consideras que o Benfica conseguirá o título, não esquecendo o Belenenses a juntar-se à corrida.
D – O Belenenses não está como no ano passado. Penso que o Paulo Fernandes vai fazer um bom trabalho. Acredito que vai levar o Benfica ao título.
A – Para um jogador, como é estar na bancada a ver um jogo?
D – Gosto de ver bom futsal. Costumo ir ver o Freixieiro, por ser o clube da primeira nacional mais perto, mas, na verdade, ao ver o jogo sinto a vontade de estar lá a jogar.
A – Tens acompanhado o trajecto da selecção nestes últimos tempos? Decorreu agora o Grand Prix, no Brasil, antes foi o Europeu, na Hungria. O que achas que falhou nas duas competições?
D – No Europeu, jogar contra a Espanha numa final… não há hipótese. A Espanha tem grandes jogadores. No Grand Prix, acho que alguma coisa correu mal. Sexto lugar para uma equipa que foi até à final… foi contra a Espanha também, mas poderia, desta, ter feito melhor.
A – Faltará alguém ser chamado? Há algo a ser mudado na estrutura da selecção?
D – Há muitos bons jogadores mesmo na segunda nacional. Há jogadores da segunda nacional que são melhores do que os da primeira. Já vi melhores jogadores na segunda e na terceira do que na selecção. A convocatória deveria ser estendida também às outras divisões.
A – Na selecção nacional, quem consideras uma referência?
D – O Arnaldo já é uma referência. O André Lima não joga. O Cardinal é matador. O Gonçalo é mais ou menos como o Cardinal, mas com mais técnica e menos finalizador. Agora temos o Leitão que está a fazer uma boa época.
A – E tu, se fosses convocado à selecção, que contributo darias?
D – Era um orgulho. Matava-me a jogar.

A – É um objectivo da tua carreira?
D – Para objectivo é um pouco difícil, mas era um sonho jogar na selecção.
A – Qual o balanço que fazes do futsal das últimas décadas?
D – O futsal em Portugal está a evoluir cada vez mais. Está a ser mais conhecido no mundo. O Europeu cá foi o que impulsionou o futsal nacional. Portugal tem subido muito. Tem ido muita gente aos pavilhões. Tem chamado mais atenção.
A – Mas ainda falta alguma coisa comparado com o espanhol, por exemplo?
D – Ainda falta muito, mas tem a ver também com os clubes. Há clubes que quase não são conhecidos, depois de estarem na primeira passam a ter mais reconhecimento.
A – Até que ponto é difícil seguir no futsal?
D – É uma questão de sorte, dar o salto. Há jogadores muito bons, mesmo nas distritais. É uma questão de trabalhar para isso e de estarem pessoas a ver.

A – Ainda é um pouco cedo para podermos falar disto, mas há já um momento da tua carreira que consigas destacar?
D – A primeira época em que joguei futsal fiz 42 golos.
A – Qual a sensação de marcar um golo?
D – É a melhor coisa que há. São sempre momentos de alegria, principalmente se ganharmos, se perdermos não tem significado nenhum. Há duas semanas marquei e perdemos 2-1.
A – Independentemente de serem jogos a disputar para o campeonato ou encontros num torneio?
D – Sim. É sempre um motivo de satisfação marcar um golo.

A – Tens algum ritual antes de entrar em campo?
D – Eu costumo saltar três vezes com o pé direito a entrar em campo. Para entrar com o pé direito em campo.
A – Há duas jornadas contraíste uma lesão e o Salgueiros acabou por perder a partida em Vila das Aves. O que é que te doeu mais a lesão ou a derrota?
D – As duas coisas. Mas também me doeu mais o facto de não poder jogar. Temos perdido principalmente. Tivemos azar no jogo, estávamos sempre a atacar e eles foram duas vezes à baliza e marcaram dois golos. Eu não estava em campo no segundo golo, já tinha saído lesionado, mas foi azar mesmo. Falhamos um penalty, correu tudo mal, mas jogamos bem.
A – O que podemos ver esta época, no Salgueiros, que não tenhamos visto nas anteriores?
D – O Salgueiros, o único objectivo é ser campeão na mesma. Começamos mal, temos tido azar, mas esta vitória acho que vai moralizar para o resto do campeonato. Vamos fazer exactamente a mesma coisa do ano passado: jogar bem e ter sorte, vamos ver.
A mãe assume-se como a fã número 1. Sempre que possível acompanha o trajecto de Diogo por onde quer que ele passe sempre convicta de que um dia representará o Benfica: “a minha mãe está sempre a dizer que um dia vou chegar ao Benfica, o que é uma motivação”.


Para além do futsal, o camisola 9 trabalha e ocupa os tempos livres com os amigos e com a namorada. Confessa gostar do número 14, apesar de ter escolhido o 9 para esta temporada. No que concerne a ambições, Diogo “gostava de um dia poder chegar à primeira divisão, pelo Salgueiros, se fosse possível. É um bocado difícil, mas não é impossível. Dar o salto”. Um salto que só é conseguido com trabalho.

Já considerado uma referência para os mais novos aqui deixa o conselho: “se têm como objectivo jogar e serem os melhores, foquem-se nisso, mas primeiro os estudos. Trabalhem muito para concretizar o sonho”.
Com a lesão quase ultrapassada, Diogo promete trabalhar jornada a jornada com vista a uma nova subida, de forma a que num futuro próximo a sua finalização seja directa à primeira.


Anabela da Silva Maganinho
Entrevista realizada em Novembro de 2010

Paixão na defesa do futsal


João Matos é um dos jovens esperanças da selecção nacional. Iniciado ao acaso no clube da terra, o Carnaxide, João acabou por ver no futsal a grande paixão da sua vida. Actualmente ao serviço do Sporting, o internacional de 22 anos não descura a possibilidade de vir a jogar no campeonato espanhol no futuro; no entanto, prefere não especular acerca dos altos voos até porque se sente bem no clube do coração.
João Matos alcançou a titularidade na época passada, tendo, inclusive, chegado aos golos nos competitivos play-off. O Sporting acabou por ficar pelo caminho rumo às meias-finais; no entanto, João seguiu para os Jogos da Lusofonia. Por pouco Portugal não ganhou o torneio, mas, ainda assim, João sente-se satisfeito pela sua prestação. Esta época não começou tão bem, devido a uma lesão de stress, como o próprio vem a explicar, conquanto, logo se recupera e, nos dois últimos jogos, o atleta retoma ao cinco inicial.
Avizinha-se o Euro 2010, na Hungria, e o camisola 9 revelou-nos que acredita em Portugal até à vitória.
À conversa com João Matos descobrimos como tudo começou pelo futsal, como se descreve e quais são os seus objectivos enquanto jogador, além disso foram revelados outros aspectos que fazem deste profissional uma das referências nacionais.
Pontapé de saída
Anabela (A) – Estás neste momento a jogar no Sporting, mas como é que surgiu o teu interesse pelo futsal? Onde é que começaste a jogar?
João Matos (JM) – Eu joguei ténis de mesa, pelo menos até ao oitavo ano. Nessa altura, o meu melhor amigo perguntou-me se como jogávamos na escola à bola eu não queria ir experimentar jogar no Carnaxide, o clube da nossa zona. Às escondidas do meu pai lá fui. No clube gostaram de mim e queriam que eu continuasse. Continuei, então, a treinar às escondidas do meu pai até que chegou a hora da verdade e tive de lhe contar (risos). No início ele não achou grande ideia e impediu-me de ir treinar. De nada adiantou, pois continuei a ir às escondidas até eles perceberem que era aquela a minha vontade. O meu pai acabou por me dar o consentimento e acabou por se tornar, inclusive, treinador de um clube, no escalão de escolinhas. Portanto, comecei a praticar as duas modalidades. Durante dois anos estive ao serviço do Carnaxide, os dois anos de iniciado, até que recebi o convite do Sporting. O Carnaxide não se impôs e rumei até ao Sporting. Vim para cá e fiz os dois anos de juvenil, os dois anos de júnior e este é o quarto ano de sénior.
A – Quem era para ti aquele jogador que se traduzia numa referência?
JM – Na altura, eu nem acompanhava muito o futsal sénior. O primeiro jogo que vi de futsal mais a sério, com mais público, uma coisa mais forte que me cativou mais ainda foi a final de juniores. Gostava imenso de ver o Vasco, um rapaz que jogava cá, no Sporting, por toda a garra que ele tinha, por toda a vontade, pelo amor ao clube que ele demonstrava. Só depois é que comecei a ver equipas seniores a jogar. O Sporting, como é lógico, foi a primeira equipa que vi. Nessa altura, o Bibi e o Zezito eram os jogadores que admirava, para além do João Benedito que evidenciava um forte empenho, vontade e profissionalismo. Tive a sorte de jogar com todos eles, quatro anos depois. Eu nem tinha grande conhecimento de futsal nacional e muito menos internacional, então, agarrei-me às melhores qualidades dos três e tentei seguir o que eles me conseguiram transmitir.
A – Se não fosses jogador de futsal o que serias?
JM – Não sei. Sinceramente não sei. Foi uma oportunidade que surgiu muito cedo. Não larguei os estudos na altura, mas muito cedo disseram-me que tinha capacidades para vir a tornar-me num jogador de futsal. Então agarrei-me a isso e como é a minha paixão, o futsal e não o futebol, só pensei nisso e só trabalhei para isso.
A – Disseste que o futsal é uma paixão e o Sporting também é, para ti, uma paixão? Podemos considera-lo como o teu clube do coração?
JM – Sim, sempre foi. A minha família é toda sportinguista. Desde que nasci que só vejo Sporting, só se vê Sporting em minha casa. Quando se é criança com 14 anos e se recebe um convite para jogar no Sporting despoleta-se aquela euforia. É a paixão pelo Sporting mesmo.
A – Quais as características que vês em ti quando entras dentro de campo?
JM – Quando entro dentro de campo, considero que as minhas maiores características são identificáveis ao nível defensivo. Tanto a leitura de jogo defensivo, como o posicionamento, a marcação, o desarme… a minha velocidade também é uma qualidade óptima em futsal. Penso que sou um jogador que ajuda muito a equipa na movimentação. Posso não ter a bola muito tempo no pé, posso não ser aquele jogador que constrói o jogo, mas sou o jogador que movimenta, o que obriga a equipa a jogar.
A – E fora dele?
JM – Motivar os colegas. Estar sempre lá para os bons e para os maus momentos. Fazê-los acreditar que o jogo só termina no minuto 40. A vitória é sempre possível a qualquer altura do jogo.
A – Como é que podemos descrever o João na vida pessoal?
JM – (risos) Sou um rapaz muito calmo, muito pacífico, amigo e que não gosta de confusões. Vivo muito pelos meus amigos. O meu dia-a-dia é passado mais com os amigos do que com a família, praticamente. É com eles que lido a toda a hora, quando saio daqui. Sou um rapaz simples, humilde, muito tranquilo e que gosta de trabalhar.
Uma queda no início da época
A – Estiveste lesionado logo no início da época. Como é que um jogador lida e supera uma lesão?
JM – É muito chato. Em Portugal, a época tem onze meses e temos só um mês de férias. Nesta última paragem, tive os Jogos da Lusofonia, nos quais representei a selecção. Foram cerca de 15 dias (uma semana de estágio, outra de torneio) a anteceder as duas/três semanas de férias. Passadas essas semanas, volto a treinar e acabo por partir o pé numa simples corrida. Foi-me diagnosticada uma fractura de stress, excesso de carga de treino. Felizmente, a fractura foi pequena – nem foi preciso usar gesso –, andei de canadianas cerca de duas semanas e pouco depois comecei a fazer recuperação. Perdi um pouco a minha condição física, como é lógico, por estar o tempo de férias mais o tempo da lesão parado, mas, rapidamente, melhorei e consegui chegar ao nível dos meus colegas. Foi mau perder o início de época, o conhecimento e o entrosamento com os novos colegas; porém, foi rápido e os novos colegas são pessoas muito fáceis de se adaptar. Foi custoso vê-los a treinar, vê-los a jogar e eu ficar de fora, mas passou depressa.
A – Acabou por ser um facto que te fez perder a titularidade que arrecadaste em muitos dos jogos da época passada?
JM – Acabei por ter uma fase muito boa, na época passada. Esta época, mudamos o estilo de jogo e, se calhar, também as minhas funções acabam por ser um pouco diferentes. Sempre contei com o apoio do mister que queria que eu voltasse, rapidamente, à forma com que acabei a época e com que estive nos Jogos da Lusofonia. Resta-me trabalhar. Sinto que estou a um grande nível, que estou a atingir o meu pico de forma, talvez, em termos de condição física. Agora tenho de ajustar a minha maneira de jogar à maneira que a equipa está a jogar. Já fui titular no último jogo e há que trabalhar para continuar. Não é missão impossível. Temos um plantel ainda mais equilibrado do que no ano passado. Todos os jogadores podem jogar a qualquer altura, ou seja, é complicado ganhar a titularidade numa equipa assim tão equilibrada. No entanto, também não é a titularidade que está em causa, porque o que eu quero é jogar. Quero estar em campo cada vez mais tempo. Se o mister entender que eu deva ser titular melhor ainda, senão é continuar trabalhar. Vou trabalhar e vou-me aplicar para que este consiga ser um ano melhor ainda do que o ano passado.
Jogos que marcam
A – Qual podes dizer, para já, que foi o jogo da tua vida?
JM – O jogo da minha vida foi a Supertaça que ganhamos ao Benfica. O Davi estava suspenso, o Bibi foi expulso e o Paulinho estava lesionado. Quando olhamos uns para os outros estávamos reduzidos a cinco/seis jogadores de campo. Dois deles éramos eu e o Djo, os supostos miúdos que só estavam lá para rodar e para fazer descansar os outros, mas que fizeram a diferença tanto ao nível defensivo – como grandes leões, e senti mesmo que fui um grande leão nesse jogo – como ao nível ofensivo em que acabei por marcar um golo, independentemente de não ser o golo da decisão. Estivemos muito aguerridos e aquela foi uma sensação única. Como tenho amigos no Benfica, mais tarde falei com eles. Eles nem acreditavam no golo que marquei, porque, realmente, foi um golo muito estranho. O Pedrinho tenta jogar a bola contra mim para eu levar amarelo, o árbitro não diz nada. Sigo com a bola, consigo driblar o Zé Maria e marco um golo ao Bebé. Foi espectacular.
A – Foi um golo com sabor especial e, ainda que não sejas um jogador de muitos golos, como vives o momento em que a bola entra nas redes? No ano passado marcaste frente ao Freixieiro, nos play-off. Qual foi o sabor?
JM – Eu festejo tanto um golo, como festejo um grande corte. Dá-me muito gozo defender. A realidade é que gosto mesmo de defender. Ganhar um jogo a sofrer é tão bom como marcar um golo. Para mim, marcar um golo é só mais um benefício para a equipa é só mais um ponto a favor para que no final consigamos os três pontos ou a vitória numa eliminatória. Não é um sentimento muito especial, a não ser que seja um golo decisivo e aí têm um sabor especial.
A – Qual o adversário que despoleta em ti maior adrenalina quando entras em campo?
JM – Teoricamente todos os jogos devem ter esse «bichinho», essa adrenalina, porque não podemos subestimar ninguém e temos de respeitar todos os adversários ao mesmo nível. No entanto, ao jogar no Sporting que tem como clube rival o Benfica é lógico que esses jogos puxam bastante por nós. Derby é derby e não há discussão de que esses são jogos muito mais emotivos. Por vezes, nem sequer é positivo, uma vez que as pessoas se deixam levar pela emoção e não jogam pela razão, mas tudo o que envolve o jogo é superior.
A – Em relação aos Jogos da Lusofonia, dos quais falaste há pouco. Como viveste aquele momento?
JM – Até aos Jogos da Lusofonia eu só tinha duas internacionalizações. Tínhamos realizado um estágio anteriormente e o mister tinha dito que dali sairia a convocatória. Muito provavelmente, os jogadores que tinham ido àquela selecção B/Sub-21 seriam os convocados para os Jogos da Lusofonia. Como é lógico, tinha a esperança e estava confiante de que iria ser convocado. Quando saiu a convocatória vi o meu nome e vi os dos meus colegas e considerei que tínhamos uma equipa bastante boa. O torneio foi uma experiência que nunca tinha tido e achei espectacular não só o convívio com atletas de outras equipas, como com toda a equipa técnica. A semana de estágio, aquela semana de trabalho… é outro mundo, é outra vivência que nada tem a ver com o clube. Entrar em campo com a camisola da selecção é um sonho realizado. Independentemente de não ser uma competição tão grandiosa como o Europeu ou o Mundial, nos Jogos da Lusofonia estou a representar Portugal e isso é que era o mais importante. Nos quatro jogos fui titular, sendo que em três deles estive, praticamente, 40 minutos em campo. Saí de lá orgulhoso de mim próprio e do trabalho que vim a efectuar ao longo da época toda.
A – Não houve o mínimo de frustração por estar ali tão perto de ganhar e ver o troféu ser entregue, mais uma vez, ao Brasil?
JM – A selecção que levávamos não era a selecção A. Não eram os jogadores habitualmente chamados à selecção, porém, sabíamos que tínhamos potencial e que teríamos as nossas oportunidades, como aconteceu. Se o Brasil jogou ou não a 100%, como eles ainda disseram no final do jogo, o que é certo é que o resultado foi 2-0 e foram dois golos consequentes de erros de Portugal: um atraso ao guarda-redes e uma bola perdida na ala. Sabíamos que íamos ter as nossas oportunidades e era aí que nos deveríamos de agarrar. Não aproveitamos as oportunidades, facilitamos e, no final, o sentimento que fica é de tristeza até porque há sempre aquele bichinho a dizer que nós iríamos conseguir. «Era agora, era a primeira vez que ganhávamos a Lusofonia». Fiquei muito triste, mas sei que dei tudo pela selecção naquele torneio.
Rumo ao Europeu com Espanha ao lado
A – E agora pensas numa convocatória para breve por parte de Orlando Duarte para a selecção A?
JM – A partir do momento em que somos convocados uma vez há sempre a esperança de sermos convocados mais vezes. Se eu estive bem nos Jogos da Lusofonia, comecei esta época com uma lesão e, nem um mês depois de voltar a jogar, fui chamado para a convocatória do jogo com o Brasil, só demonstra que o misterOrlando não olha só para o momento. Ele conhece as minhas qualidades, viu-as na época passada, e sabe do trabalho que fiz na Lusofonia. Sabe aquilo que sou capaz de fazer e sabe que posso melhorar, ele mesmo o diz. Então estou sempre à alerta de uma oportunidade, de uma convocatória. É sempre possível, depende das intenções do mister, do que ele pretende, se acha que eu devo ou não devo ir. Se acredito que posso ser chamado? Claro, se estou a jogar posso sempre ser chamado.
A – Como achas que vai ser a prestação de Portugal já agora no Euro da Hungria?
JM – Dada a selecção que temos e a qualidade que temos, espero sempre uma boa prestação. Portugal tem uma boa equipa e tem um bom futsal acima de tudo, boa qualidade individual e um grande conjunto. Isso faz com que o sucesso apareça e, se nos fugiu há pouco tempo no jogo com a Espanha, perdemos nos últimos minutos, porque não dar agora o pulinho que falta. Acredito muito que Portugal consiga o triunfo.
A – Vários jogadores têm em ideia que Espanha tem o melhor campeonato e ambicionam chegar além fronteiras. Também tens essa ambição de chegar a um clube espanhol?
JM – Quando se está bem não se deve mudar. O Sporting é a minha casa. Vai ser sempre a minha casa, independentemente do que possa acontecer. Estou muito bem aqui. Sinto-me muito bem, sou tratado como família, como se estivesse em casa. É verdade também que o melhor futsal é em Espanha. Os melhores jogadores estão lá, as melhores equipas também lá estão, mas pode-se chamar um sonho jogar lá. Ainda não tenho a maturidade e a qualidade suficientes para chegar a Espanha e me impôr. Se for para o campeonato espanhol, o meu objectivo é de deixar marca. Não quero ir para lá para ser mais um e acabar por ser esquecido. Neste momento, tenho os pés bem assentes na terra. Sei que tenho que trabalhar muito em Portugal e ainda tenho muito para dar ao Sporting e ao campeonato português. Só depois sim, pensar numa ida para o estrangeiro, se isso acontecer.
Acerca do futsal nacional, João Matos assevera que a modalidade “em relação aos últimos anos tem subido imenso. Nos últimos dois/três anos o campeonato português é cada vez mais equilibrado. Há treinadores com mais formação, jogadores estrangeiros com mais qualidade e isso fortalece as equipas que são, teoricamente, mais fracas. Tudo isso só favorece o campeonato português”. O jogador revela estar atento não só ao lado positivo, como também aos outros aspectos que “podem levar o futsal para baixo”. “Tudo o que envolve ao nível de jogo está muito superior, no futsal português, apesar de depois haver aspectos por fora, como a falta de pagamento. No entanto, considero que o futsal está a subir muito e a transmissão dos jogos na televisão ajuda muito”, declara o jogador.
Sabemos que o futebol é, sem margem para dúvida, o desporto que se tornou numa completa imagem de marca. O futsal, segundo João Matos, “está muito longe” e continua “gostava muito que desse um pulo que o levasse para perto, porque nem perto está. O futebol é a modalidade favorita e não tem como lá chegar. O futsal batalha para subir a pouco e pouco”. O jogador do Sporting acaba por fazer ressaltar que “o que importa é que tem vindo a subir. Há cada vez mais adeptos, cada vez mais pessoas a gostarem e a praticarem a modalidade. Vamos dando passos devagarinho de forma a sermos a segunda modalidade em Portugal”.
Inserido neste mundo da bola, João Matos revela quais os objectivos que tem em mente para breve e deixa já algumas ideias para o futuro: “por agora o grande objectivo é o objectivo da equipa e ponto final: atingir todas as finais e, se possível, ganhar”. Enérgico e com a vontade permanente de ganhar, este jovem admite que pretende melhorar as suas capacidades e que quer “manter a convocatória para a selecção nacional. Se há uns meses o objectivo era ser chamado, agora pretendo manter”. Para o futuro, João manifesta a vontade de realizar o sonho de ir para o estrangeiro; porém, afirma que está muito bem no Sporting e que, por enquanto, quer servir os leões. O estrangeiro representa “uma aventura”, expõe, “o estrangeiro é um sonho, mesmo pela aventura, mesmo pelo mudar de vida, pelo experimentar o grande campeonato que se diz. Gostava de ir lá parar”.

Com muito a dar ao futsal nacional, João Matos é comandado pela paixão a cada encontro e, pela luta e entrega que veio a adquirir, o resultado apenas pode ser um no marcador da vida: um remate certeiro para a vitória.

Anabela da Silva Maganinho
Entrevista realizada em Novembro de 2009

A conquista de um sonho do Brasil a Portugal


Edilson Sousa Araújo é o nome do camisola 5 do Freixieiro que todos conhecem por Nené.
Acarinhado pelos apoiantes da equipa de Matosinhos, Nené entra em campo como se desde sempre fizesse parte desta instituição; no entanto, o trajecto do jogador já conta com outras passagens. Tudo começou aos seis anos quando decidiu ingressar pela aventura do futsal. Dividido entre o sonho do futsal e do futebol integra uma equipa de futebol e concilia ambas as modalidades enquanto investe na formação pessoal. Em 2003, dá o primeiro salto na carreira ao rumar para São Paulo. O futebol tornara-se numa ambição de outrora, passando o futsal a inteirar a sua vida. Após esta experiência, acaba por sair do país e até do continente. O destino que se seguia era a Bélgica, ainda que apenas pelo período de quatro meses. Eis que surge a oportunidade de vir para Portugal e Nené não hesita em dirigir-se para o nosso país, apesar de ter tido uma proposta para regressar ao Brasil. Hoje, é um dos melhores marcadores do futsal português, é um jogador bom, como se define, e sente-se feliz e concretizado pelo que já alcançou. A selecção é agora a próxima etapa que pretende alcançar. A defesa das cores nacionais é um objectivo pretendido por aquele que todos no futsal reconhecem, afinal “é o Nené, é o Nené”, como ecoa a claque do Freixieiro a cada jornada.

Anabela (A) – Antes de mais queremos saber a que se deve o nome Nené. Há alguma razão que explique?
Nené (N) – Nené é só alcunha. Já vem desde bebé mesmo, porque, no Brasil, Nené é bebé.
A – Então decidiste adoptar o nome pelo qual te conheciam.
N – O nome já tinha surgido e, portanto, não havia como mudar. Todos me conheciam por Nené, poucos eram aqueles que me conheciam pelo nome mesmo, então, adoptei o apelido.

A – Como é tudo começou no futsal? Que clubes representaste desde a tua formação no Brasil?
N – Comecei no futsal aos 6 anos, nas escolinhas. Desde essa altura, sempre conciliei os estudos com o futsal. Aos 8/9 anos, passei a jogar também nas escolinhas de futebol 11 e pratiquei ambas as modalidades até à idade de juvenil, momento em que tive de escolher. Preferi o futsal, uma vez que, aos 16/17 anos, já fazia parte da equipa de seniores de Rio Verde. Já ganhava algum dinheiro e decidi optar pelo futsal. Fiquei no Rio Verde até aos 19/20 anos e, em 2003, saí da minha cidade, pela primeira vez. Fui para o interior de São Paulo (Santa Fé do Sul). Depois tive uma passagem de meia época pelo Charleroi, na Bélgica. Entretanto, houve o interesse de uma equipa, no Paraná, no Brasil, mas foi quando apareceu a oportunidade no Instituto. Vim para Portugal, fiquei três anos no Instituto e, posteriormente, despontou a oportunidade no Freixieiro.

A – No Instituto (2004-2007), ocorreram lances bastante disputados em campo. Temos o caso do jogo com o Freixieiro, cujo resultado final foi 2-2. Porém, este encontro foi considerado «polémico», por considerarem que o golo foi marcado em situação irregular. Lembras-te desse jogo?
N – Desse jogo até me lembro bem. Estava a jogar pelo Instituto e até fui expulso. Estive a acompanhar o lance de fora e, realmente, já tinha passado o tempo e acho que a bola foi com o braço. São coisas que acontecem. São erros dos árbitros, umas vezes a favor outras vezes contra.
A – Encontros jogados também até ao final são aqueles que se realizam com o Sporting e com o Benfica. Como é que encaras esses jogos frente aos clubes que, juntamente com o Freixieiro, são grandes clubes nacionais?
N – Não adianta fugir. Os jogos contra o Sporting e o Benfica são sempre diferentes. O Belenenses, nos últimos três anos, tem feito boas campanhas e, nos últimos dois anos, chegou à final. A Fundação também se junta ao lote. São sempre jogos em que temos de estar concentrados até ao fim. O futsal é assim e, às vezes, em dois/três segundos decide-se uma partida. São jogos sempre muito complicados, renhidos e a concentração tem de estar em alta.

Nené, esta época, frente ao Benfica

As grandes penalidades da época passada
Festejo de um golo frente ao Sporting
A subida ao campo na hora do jogo despoleta sempre a adrenalina em Nené. Como o próprio afirma “a adrenalina é normal. Quem disser que não a sente está a mentir. É normal antes dos jogos, principalmente antes dos que são mais difíceis, mais decisivos…é normal sentir o friozinho na barriga”. Na altura de entrar no palco de todas as emoções, o jogador do Freixieiro assume que adopta alguns rituais que não sofrem grandes modificações com o passar do tempo: “tenho rituais simples. Coloco a caneleira direita primeiro, entro em campo sempre com o pé direito, faço sempre o sinal da cruz e benzo-me antes de entrar e na hora de sair para agradecer”, revela o número 5.
Nené joga na posição de ala, embora, “às vezes, quando o Ivan ou o Dani não estão em campo, jogo em fixo também”. Já em campo, o atleta confessa ser “um jogador tacticamente bom e com muita vontade. Entrego-me completamente quando estou dentro de campo. Sou bom no um-para-um, gosto de ter a bola, gosto de chamar a responsabilidade para mim mesmo. Fui sempre assim desde jovem e agora não é diferente. Não sou mau na marcação. Às vezes, perco, erro como todos, mas é assim que me descrevo enquanto jogador”. E, ainda que assuma por entre um sorriso que é complicado ser ele próprio a falar dele, fora das quatro linhas, descreve-se como “um rapaz tranquilo. Não sou muito de sair, sou mais caseiro. Sou um pouco tímido, é o meu jeito de ser. É do signo escorpião” e chega a utilizar uma expressão brasileira quando diz: “falo menos e acho que quem fala menos «saca» tudo”.
A – Contas já com alguns anos em terreno luso, do que é que sentes mais falta do Brasil?
N – Da família e dos amigos. Penso que a rotina, a cultura do país é muito diferente e o clima também. Aqui faz muito frio e, às vezes, nem dá vontade de fazer muita coisa e torna-se complicado.
A – Quem consideravas uma referência no futsal?
N – Sempre tive grandes referências. O futsal brasileiro é, sem dúvida, o melhor do mundo. Tive grandes referências: o Falcão e o Tobias que estava no auge quando eu estava a começar.
A – Já que estamos a falar em Portugal e no Brasil, é impossível não falar das selecções. Esperas vir a conseguir a naturalização e ingressar na selecção nacional portuguesa ou reside em ti a esperança de seres convocado pela selecção do Brasil?
N – Acho que, para a selecção brasileira, é um pouco complicado. Ela tem muitos jogadores bons e nós também ficamos um pouco “escondidos”. No meu caso, saí do Brasil muito cedo, muito jovem e sou pouco conhecido no Brasil inteiro. A selecção portuguesa, como é lógico, passa pela cabeça sempre. Ainda não me naturalizei, mas estou aqui há um tempinho e, se aparecer a oportunidade, darei um passo que falta na minha carreira.

Dois brasileiros juntos pelo Freixieiro

A – Há alguma época que destaques como aquela que te traz mais recordações, que fica para a história da tua carreira?
N – Consigo destacar duas grandes épocas. Uma no Brasil, em 2003, quando estava no Rio Verde. Joguei na Liga e marquei 16 golos. Até à primeira fase estive na disputa para o melhor marcador: o Falcão tinha 19 e eu tinha 13/14. A minha equipa acabou por não se classificar, não passou da primeira fase, mas eu fiz uma grande Liga e foi aí que começaram a surgir novas oportunidades. Por cá, a minha melhor época foi a época passada. A minha primeira época no Freixieiro também foi boa, todavia, foi uma época de adaptação. A época passada foi aquela em que joguei mais minutos, marquei mais golos (25), fiquei entre os três melhores marcadores. Foi muito bom.
Os primeiros aquecimentos pelo Freixieiro

O afastamento do Sporting na época passada

A – És um jogador de grandes golos e ainda este fim-de-semana voltaste a marcar. O que é que te passa pela cabeça na hora em que marcas?
N – O golo é o momento maior. Sentimos uma maior emoção, dependendo do jogo que for. Se é um jogo mais decisivo é muito mais emocionante. Todos os golos são bons, são emocionantes e é onde «tiramos para fora»: onde insultamos, onde agradecemos…O momento vai ditar o que vamos fazer.
A – Qual o golo que te fica da memória?
N – Um golo em particular não tenho. No entanto, um que foi muito emocionante foi o da época passada frente ao Sporting. O golo que fez com que conseguíssemos eliminar o Sporting, nos play-offs, foi muito emocionante para mim.
A – E ainda te recordas do primeiro golo que marcaste, mesmo em miúdo?
N – Não. (risos) Para falar a verdade, desse não me recordo mesmo.
Um grande golo frente ao Olivais

A – Quais as maiores evoluções que notas em ti desde que chegaste a Portugal?
N – Penso que a evolução tem a ver com a experiência que fui adquirindo ao longo dos anos. Não sou muito velho, mas comecei cedo. Como disse anteriormente, com 16/17 anos já estava numa equipa sénior e, no Brasil, aprende-se muito. Não só com o treinador como também com os companheiros de equipa mais experientes. Considero-me, hoje, um jogador com muita experiência: sei entrar em campo, sei para onde correr, sei fazer uma cobertura. Não obstante, consigo ler o jogo de uma maneira boa, de forma a saber o que está a acontecer e pensar no que devo fazer. Foi nisso que evoluí mais.
A – E consegues fazer um balanço do futsal nacional, neste momento?
N – O futsal português melhorou muito, desde que cheguei. Quando cheguei senti muito a diferença. Não achava que o nível era fraco, mas, em relação ao Brasil, considerava um nível abaixo da média. Ainda hoje penso que a Liga brasileira é mais disputada. No Brasil, é diferente. Os clubes são todos profissionais, treinam muito (de manhã à tarde)… Aqui, infelizmente, não é assim, porém, penso que evoluiu muito. O campeonato está muito disputado e qualquer equipa pode roubar pontos a outra. Não está um campeonato de quatro equipas, como no ano em que cheguei, e isso é bom. É isso que faz o futsal evoluir e a tendência é evoluir cada vez mais.
Para o futuro, Nené não pensa em grandes feitos até porque já se considera “um bocado realizado”. O sonho de se tornar jogador foi concretizado e agora “falta pouca coisa”, assevera. “Quando era miúdo sempre sonhei ser jogador de futebol e, por isso, sou um jogador realizado. Só quero continuar a fazer as coisas bem, aqui no Freixieiro, e, quem sabe, um dia chegar a uma das selecções. É isso que falta na minha carreira”, manifesta. Esse é o principal objectivo, de momento, o resto será para onde o futsal o conseguir levar: “Tenho a minha carreira, consigo viver bem financeiramente. Consigo ajudar a minha família no Brasil, esse era o meu desejo. Quando me tornei jogador de futebol sempre me apoiaram, sempre me ajudaram e agora tento retribuir isso. Estou feliz assim. Falta a selecção para fechar a minha carreira com chave de ouro”.

Anabela da Silva Maganinho
Entrevista realizada em Outubro de 2009.